quinta-feira, 10 de junho de 2010

Sentimentalismos baratos...


Caminhava pela rua deserta, absorta em seus pensamentos. O som do salto na calçada molhada entremeava os tolos e românticos pensamentos. Como poderia ser tão ingênua e tolamente romântica?

Tinha ido àquela festa para tentar se distrair, tirar aquele ente mágico, aquele ser insensível, bruto e ausente do seu pensamento. Aceitara o convite de uma amiga com a promessa que não terminaria a noite só e teria uma carona para sua casa. No fim das contas, acabou sem as duas coisas. A única companhia que lhe apareceu não satisfazia sua inteligência, seu bom papo, além de não ter nenhum traço de beleza, que seria compensado facilmente por um bom papo, e além de tudo isso, a imagem daquele homem que tanto a maltratava com sua ausência não lhe saía da cabeça; e sua amiga, bem, sua amiga...

Sempre fora muito mais desenvolta que ela, tinha grande facilidade de contornar todas as situações sociais e apesar de ser realmente bela, tinha um charme e uma conversa irresistível a qualquer homem. Nunca ficava sem companhia. Já ela... A única coisa que tinha para oferecer era uma conversa envolvente, falava sobre vários assuntos com desenvoltura e era dona de um par de olhos castanhos que falavam mais que qualquer palavra proferida pela sua boca. Isso, no entanto, não eram atrativos suficientes para atrair qualquer pessoa na noite, as pessoas buscam a beleza exterior e ela só podia oferecer a beleza interior. Por isso, sempre, ou quase sempre, terminava a noite só, com o frio da solidão percorrendo suas veias.

Durante o percurso sentiu passos que acompanhavam os seus. Passos masculinos, fortes, brutos, que seguiam as batidas dos seus saltos. O frio do medo percorreu sua espinha e esse medo era tanto que não tinha coragem de olhar para trás.

Apertou o passo, as batidas do salto se intensificaram como se pisando com força no chão pudesse demonstrar segurança e afugentar o medo. Os passos masculinos também se intensificaram, no mesmo ritmo e se aproximavam cada vez mais.

Ela apertou com força a pequena bolsa contra o peito e pensou em correr, mas no momento em que se preparava para fugir daquela rua escura, sombria e fria, uma mão forte segura com firmeza sua braço, detendo-a e paralizando-a de medo. Pensou em gritar por socorro, mas o medo era tamanho que sua voz não saia. A outra mão máscula, temendo pelo grito tapou-lhe a boca e disse com uma voz firme para não se mover nem gritar que nada de mal lhe aconteceria.
A voz. Ah aquela voz... Reconheceria aquela voz mesmo que a cidade inteira gritasse em uníssono.

Agora o choque era duplo, o medo ainda percorria sua espinha e o susto de ouvir aquela voz tão familiar, mas ao mesmo tempo tão distante também a paralizava. A voz simplesmente disse para seguir caminhando até a próxima esquina sem olhar para trás. Na esquina ela deveria virar a direita e aguardar novas instruções. Ela seguia as instruções e a mão ainda segurava o seu braço, conduzindo-a até o local indicado.

Ela havia reconhecido a voz, mas não conseguia ver o rosto, não conseguia que estava coberto por uma máscara negra e vestido de uma maneira completamente diferente do que estava acostumada a vê-lo. Ele, sempre despojado, detestava roupas sociais, sempre com calças jeans e camiseta, naquele momento, vestia-se como um mágico, que havia se aproximado para enfeitiçar ainda mais seu coração em desalinho. Vestia uma calça preta, com corte impecável e uma capa, daquelas vistas somente em filmes.

Após virarem a esquina, ele a apertou contra o muro e roubou um beijo de sua boca. Aquele beijo confirmou todas as desconfianças dela. Era ele. Ele e somente ele tinha aquele beijo...

Surpresa, ela se entregou àquele momento e tão subitamente como começou, também terminou. Ele virara as costas e se preparava para partir. Ela segurou seu braço e puxou-o para colarem seus corpos novamente e repetir aquele beijo. Antes, porém, ela arrancou a máscara que cobria seu rosto e revelou aquele rosto com o qual tantas vezes sonhara, com o qual ansiara viver o que estava vivendo. Ela que tanto esperou por aquele beijo, finalmente o havia recebido.

Beijaram-se novamente, ardentemente, por longos minutos. Ambos entregaram-se a volúpia daqueles momentos que ficariam eternizados em suas memórias. Entregaram-se um ao outro como nunca havia acontecido. Ela o amava às escondidas e puramente. Ele, ninguém sabia quais eram seus sentimentos, mas, ali, naquele momento, ela também a amava.

Terminado o beijo e sem dizer nenhuma palavra, os dois seguiram cada um o seu caminho, separados, mas felizes e com a certeza que aquele momento já estava imortalizado e que o amanhã, seria apenas o primeiro dia do resto de suas vidas...
Vanessa

2 comentários:

Castro disse...

Morri mil vezes

Muito incrível
Imaginei a rua, imaginei tudo, imaginei ela andando o rapaz chegando, o muro perdido em um chão molhado que fazia os movimentos e os passos ficarem mais evidentes, achei incrível!

( Eu acho que eu criei a agua hsaudhasudh)

Anônimo disse...

que liindoo *-*